Mirabô Dantas é cantor,
compositor e escritor. Potiguar, morou no Rio de Janeiro nas décadas de 80 e 90
e foi presidente do sindicato dos músicos. Gravou um compacto pela CBS, ainda
em vinil, e lançou, em 2007, o seu primeiro CD, de forma independente. Junto
com o CD, Mirabô lançou seu livro de memórias musicais: “Umas histórias, outras
canções”.
A primeira faixa do CD, “Colando
a boca no teu rosto”, foi gravada também por Fagner em seu mais recente CD, “Fortaleza”,
no qual divide o vocal com Zeca Baleiro. “Mares Potiguares” é um significativo
resumo da obra de Mirabô, principalmente suas parcerias com o baiano Capinan.
Destaque para a bela “Nunca mais”, música de Mirabô sobre poema de Auta de
Souza.
A produção do disco é de
Jorge Lima e os músicos que participam do disco são Jorge Lima, Marco França,
Jr. Primata, Joca Costa, Erick von Sohsten, Marcelo Tinoco, William da Costa,
Faisal Hussein, Philipp Diego, Jubileu, Paulo Sarkis, Diana Alves, Costinha e
Alexandre Johnson. Nos vocais: Rachel Grossmann, Juliana Queiroz, Tiquinha, Angela
Castro e Victor Queiroz .
MIRABÔ - MARES POTIGUARES
1-Colando a boca no teu rosto
(Mirabô/Capinan) - Part. de Fagner
2-Mares potiguares
(Mirabô/Capinan)
3-Teu amor (Mirabô/Paulo
George)
4-A quem interessar possa
(Mirabô/Nêumanne Pinto/Leandro G. Barros)
5-Viço (Mirabô/Claudio Leal)
6-Fado (Mirabô/Nêumanne
Pinto/Leandro Barros)
7-Pra te esquecer
(Mirabô/Mauricio Tapajós)
8-Estrela D'Alva
(Mirabô/Capinan)
9-Toda mulher (Mirabô/Marcos
Silva)
10-Nunca mais (Mirabô)
Um trecho do livro “Umas
histórias, outras canções”:
“Chegando e Cantando”
“Em 1975, eu havia deixado
Natal para ir morar em São Paulo. Já estava ali há mais de um ano e não
conseguia me adaptar à cidade. Nos meus momentos de reflexão, eu não me via
ali, apesar de ter consciência de que aquela cidade era o maior centro cultural
e econômico do país. Às vezes, tentava me convencer a ficar, lembrando-me de
que muitos movimentos de vanguarda nasceram ali: a semana de arte moderna, o
tropicalismo, o teatro de Zé Celso, as produções teatrais como O Balcão, etc.
Mas eu me acostumara com o calor de Natal e naquele momento eu sentia frio. Um
frio que ia além do corpo. Um frio na alma. Apesar do apoio moral vindo do
poeta e parceiro musical, o jornalista Dailor Varela, responsável pela minha
ida para aquela capital, chegou um dia que não deu mais para ficar. Apoiado por
Odaíres, com quem estava casado na época, juntei os poucos trapos que tínhamos
e, com nosso filho, Carlo Gil, nos mandamos para o Rio de Janeiro, onde moravam
suas irmãs Grace (já com emprego certo) e Terezinha de Jesus, que estava
tentando consolidar sua carreira de cantora, o que realmente aconteceu.
Terezinha, algum tempo depois, chegou a ser contratada pela gravadora CBS onde
ainda gravou cinco discos, todos eles contendo, além de outras, uma música de
minha autoria em parceria com o poeta e amigo José Carlos Capinan.” ...
“Naqueles primeiros dias de
Rio de Janeiro, fui ao teatro João Caetano a fim de ver um show beneficente,
daqueles em que vários artistas se apresentam, cada um cantando um número
limitado de músicas. Vários artistas já consagrados no cenário musical
brasileiro iam se apresentar. Terezinha, com quem eu tinha ido, ao ver o
compositor Geraldo Azevedo, de quem já era amiga, tratou logo de nos
apresentar, embora nós já soubéssemos algumas coisas um do outro, pois tínhamos
um amigo em comum, o escritor pernambucano Jomard Muniz de Brito, o qual,
sempre que vinha a Natal, falava de Geraldo para mim e vice-versa. Enfim, já
nos conhecíamos, faltava era ficarmos cara a cara. Geraldo, depois de um abraço
demorado e sincero, foi logo me perguntando:
– Vai cantar, velho?
– Claro que não! Estou
chegando agora... O que é que eu vou fazer no meio de tanta estrela? Ainda mais
num teatro desses... No Rio de Janeiro... Tá doido? – Eu disse.
– E eu? Você acha que sou
esse famoso todo? Estou começando agora – completou. E continuamos ali
conversando. Eu feliz por ter finalmente conhecido aquela pessoa que todos os
amigos tem como um grande companheiro.
Continuávamos tagarelando ali
atrás do palco, quando o produtor do espetáculo chegou perto de nós e falou
para Geraldo que o show ia começar e ele seria um dos primeiros a se
apresentar. A essa altura, o compositor de Caravana pediu para que eu ficasse
ali, pois continuaríamos a conversa depois de sua apresentação. Dali mesmo
detrás do palco e ao lado de outros cantores participantes do evento, fiquei
assistindo a tudo com certo olhar de deslumbramento. O show foi iniciado. Cada
artista a se apresentar cantava três músicas e em seguida ia chamando o
próximo.
Chegou finalmente a vez de
Geraldo Azevedo que, depois de cantar duas músicas, falou para a platéia que o
ouvia atenta:
– Gente! Eu, como todos os
que se apresentaram até agora, teria que cantar três músicas. Mas acabei de
conhecer um cara que já era meu amigo há muito tempo, embora nunca tivéssemos
nos encontrado. Ele é do Rio Grande do Norte, é compositor e recém-chegado ao
Rio. Vai cantar a terceira música a que tenho direito. E me anunciou.
Entrei naquele palco meio que
no susto. Recebi o violão das mãos de Geraldo e cantei A Quem Interessar Possa,
uma canção que fiz em parceria com o paraibano José Nêumanne Pinto (atualmente
comentarista político do telejornal do SBT) sobre um cordel de Leandro Gomes de
Barros e uma citação de Oswald de Andrade que diz:
Saibam quantos
Esta canção ouvirem
Que te amo
Do amor maior
Que possível for
Tomo tua mão
Não sou seu amo e senhor
Sou só teu amor
E és meu amor também
Mil cento e vinte anos
Eu vivi no abandono
Porém quem ama tem força
Vence fome, sede e sono
O amor nasce no mundo
Já destinado ao seu dono
O público, que lotava o
teatro João Caetano, foi mais do que generoso comigo: não só me aplaudiu
bastante como ainda me fez cantar mais uma. Geraldo voltou ao palco, me abraçou
e, além de ser aplaudidíssimo pelo gesto, também cantou finalmente a terceira
música a que tinha direito, lógico, a pedido da calorosa platéia. Foi assim a
minha primeira apresentação no Rio de Janeiro.”
(Trecho retirado do livro “Umas histórias, outras
canções” de Mirabô Dantas, Natal, RN – 2007 – Págs. 37 a 39.)
Contatos com Mirabô para adquirir o livro e o CD Mares Potiguares: mirabo.potiguar@hotmail.com
Contatos com Mirabô para adquirir o livro e o CD Mares Potiguares: mirabo.potiguar@hotmail.com
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