Nasceu na localidade de
Pirituba, no município de Macaíba, no estado do Rio Grande do Norte. Aos quatro
anos de idade, foi viver com a família em Natal (RN) onde morou até o início da
década de 1940. Desde criança gostava de cantar. Ainda na adolescência, começou
a se interessar pelas serestas e travou conhecimento com músicos locais. Pouco
mais tarde se casou com um desses seresteiros, Naldimar Gedeão Delfino. Com ele
se mudou para o Rio de Janeiro em 1941. Seu nome oficial mudou sofreu duas
alterações ao longo da vida. Foi registrada como Ademilde Ferreira da Fonseca.
Ao casar com o violonista Naldimar Gideão Delfino mudou o nome para Ademilde
Fonseca Delfino. Ao separar-se de Naldimar, adotou o nome artístico de Ademilde
Fonseca como seu nome documental. Recebeu do instrumentista Benedito Lacerda o
título de "Rainha do chorinho".
Em 1942, se apresentou no
programa Papel Carbono, de Renato Murce. No mesmo ano, acompanhada pelo
regional de Benedito Lacerda interpretou durante uma festa o choro
"Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu, com letra de Eurico
Barreiros. O flautista gostou tanto de sua interpretação que tomou a iniciativa
de levá-la aos estúdios da gravadora Columbia, na época dirigida pelo compositor
João de Barro (Braguinha). Sua estréia em disco aconteceu em agosto de 1942,
num 78 rpm que trazia o choro "Tico-Tico no Fubá" e o samba
"Voltei pro morro", de Benedito Lacerda e Darci de Oliveira. Foi a
primeira vez que o choro de Zequinha de Abreu composto em 1917, era gravado com
a letra escrita por Eurico Barreiros após a morte do compositor. No mesmo ano,
gravou os sambas "Racionamento", de Caio Lemos e Humberto Teixeira e,
com Lauro Borges, "Altiva América", de Esdras Falcão e Humberto Teixeira.
No ano seguinte, gravou os choros "Apanhei-te, cavaquinho", de
Ernesto Nazareth, com letra de Darci de Oliveira e Benedito Lacerda, e
"Urubu malandro", de motivo popular, com arranjos de Lourival de
Carvalho e versos de João de Barro, com acompanhamento de Benedito Lacerda e
seu conjunto regional. Desde então, passou a ser conhecida como cantora
identificada com o gênero que a consagraria: o choro. Passou a ser reconhecida
como "Rainha do Choro". Em 1943, assinou contrato com a Continental,
que relançou seus primeiros discos. Em 1944, gravou o samba "Brinque a
vontade!...", de Osvaldo dos Santos, Odaurico Mota e Antônio Ferreira da
Silva e a marcha "Os narigudos", de Banedito Lacerda e Haroldo Lobo.
No mesmo ano, lançou os choros "Dinorá" e "É de amargar",
ambos da dupla Darci de Oliveira e Benedito Lacerda. Ainda no mesmo ano, foi
contratada pela Rádio Tupi, apresentando-se com os regionais de Claudionor Cruz
e Rogério Guimarães. Em 1945, gravou os choros "O que vier eu traço",
de Osvaldo dos Santos e Zé Maria e "Xem-em-ém", de Geraldo Medeiros e
Nestor de Holanda. No mesmo ano, gravou em ritmo de choro a polca
"Rato", de Claudino da Costa e Casimiro Rocha. Da gravação fez parte
o violonista Garoto com o conjunto Bossa Clube. Em 1946, gravou o samba "Estava
quase adormecendo", de João de Deus e Sebastião Figueiredo e o choro
"Sonoroso", de Del Loro e K-Ximbinho, que foi um de seus sucessos.
Voltou a gravar apenas dois anos depois, quando registrou os choros "Vou
me acabar", de Altamiro Carrilho e Pereira Costa e "Sonhando", de
K-Ximbinho e Del Loro. Voltou a ficar dois anos sem gravar e em 1950, lançou a
marcha "João Paulino" e o samba "Adeus, vou-me embora",
ambas as composições de autoria de Alberto Ribeiro e José Maria de Abreu. No
mesmo ano, suas gravações para "Brasileirinho", de Waldir Azevedo e
Pereira da Costa e "Teco-teco", de Pereira da Costa e Milton Vilela
resultaram em enorme sucesso, sendo acompanhada nas duas composições pelo
regional de Waldir Azevedo. Ainda no mesmo ano, assinou com a Todamérica, onde
estreou com os choros "Molengo", de Severino Araújo e Aldo Cabral e
"Derrubando violões", de Carioca. Em 1951, gravou os baiões
"Delicado", de Waldir Azevedo e Ari Vieira, uma de suas gravações
mais marcante e "Arrasta-pé", de Rafael de Carvalho. No mesmo ano,
gravou dois clássicos do repertório do choro: "Galo garnizé", de
Antônio Almeida, Luiz Gonzaga e Miguel Lima e "Pedacinhos do céu", de
Waldir Azevedo, com letra de Miguel Lima. Em 1952, gravou o samba "Só
você", de Bruno Gomes e Ivo Santos e o "Baião em Cuba", de
Pedroca e Miguel Lima. No mesmo ano, seguiu para a França com a Orquestra
Tabajara, de Severino Araújo, participando de um espetáculo em Paris produzido
pelo jornalista Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados. Em 1953,
gravou o choro "Vaidoso", de Poly e Juraci Rago, os baiões
"Turista", de Poly e Geraldo Blota e "Meu Cariri", de Dilu
Melo e Rosil Cavalcânti e a marcha " Uma casa brasileira", de Wilson
Batista e Everardo de Barros. A partir de 1954, na Rádio Nacional, passou a
apresentar-se com os regionais de Canhoto, Jacob do Bandolim e Pixinguinha e
também com as orquestras de Radamés Gnattali e do maestro Chiquinho. Também em
1954, gravou a polca "Pinicadinho", da dupla Jararaca e Ratinho e o
baião "Tem 20 centavos aí?", de Zé Tinoco. Em 1955, gravou o maxixe
"Rio antigo", de Altamiro Carrilho e Augusto Mesquita e o choro
"Saliente", de Altamiro Carrilho e Armando Nunes. No mesmo ano,
transferiu-se para a Odeon e lançou os choros "Polichinelo", de Gadé
e Almanir Grego e "Na vara do trombone", de Gomes Filho. No ano
seguinte, gravou o samba "Império serrano", de Lobo, Hinha e Amorim
Roxo e a marcha "Me leva", de Arsênio de Carvalho. Em 1956, gravou,
entre outros: o "Xote do Totó", de Arsênio de Carvalho e Nelson
Sampaio; o choro "Acariciando", de Abel Ferreira e Lourival Faissal;
o baião "A situação", de Miguel Lima e Gil Lima e a toada
"Procurando você", de Catulo de Paula e Fernando Lopes. Em 1957,
gravou o samba "Telhado de vidro", de Marino Pinto e Mário Rossi. No
mesmo ano, ficou em terceiro lugar no concurso para a escolha da "Rainha e
Rei do Rádio" com 100.445 votos. Em 1958, gravou o LP "À la
Miranda", no qual interpretou músicas que foram sucessos na voz da
"Pequena Notável", como "Camisa listada", "Uva de
caminhão" e "Recenceamento", todas de Assis Valente. Em 1959,
gravou o samba "Na Baixa do Sapateiro", de Ary Barroso. No mesmo ano,
assinou contrato com a Philis e lançou o LP "Voz + Ritmo = Ademilde
Fonseca" com destaque para "Tá vendo", de Antônio Almeida;
"Se eu te perdesse", de Marino Pinto e Vadico; "Boato", de
João Roberto Kelly e "13 de maio", de René Bittencourt. No ano
seguinte, gravou o LP "Choros famosos", cantando uma série de choros
clássicos como "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro,
"Pedacinhos do céu", de Waldir Azevedo e Miguel Lima,
"Apanhei-te cavaquinho", de Benedito Lacerda, Darci e Oliveira e
Ernesto Nazareth e "Comigo é assim", de José Menezes e Luiz
Bittencourt. Em 1961, gravou o samba "De apito na boca", de Bidu Reis
e Murilo Latini e a marcha "É o que ela quer", de J. Cascata e Luiz
Bittencourt. Em 1962, gravou as marchas "Pé de meia", de Luiz de
França e Nahum Luiz e "Quem resolve é a mulher", de Luiz Bittencourt
e Bidu Reis. Excursionou pela Espanha e por Portugal em 1964, juntamente com o
cantor Francisco Egídio. Em Lisboa, permaneceu em cartaz durante cerca de seis
meses. Em 1967, interpretou o choro de Pixinguinha e Hermínio Bello de Carvalho
"Fala baixinho" no II Festival Internacional da Canção (FIC), da TV
Globo. Na década de 1970, apresentou-se em shows no Teatro Opinião no Rio de
Janeiro e lançou um LP pela gravadora Top Tape, em 1975. Neste disco destaca-se
a faixa "Títulos de Nobreza", que tem também o nome de "Ademilde
no Choro". Trata-se de um presente para a cantora da dupla de compositores
João Bosco e Aldir Blanc. A letra se refere a diversos títulos de choros,
muitos deles gravados anteriormente por ela própria. Este disco, que marcou o
retorno da cantora às gravações tinha ainda as faixas "Choro chorão",
de Martinho da Vila, "Meu sonho", de Paulinho da Viola e "Amor
sem preconceito", de Paulinho da Viola e Candeia. Em 1997, integrou-se ao
conjunto As Eternas Cantoras do Rádio ao lado de Carmélia Alves, Violeta
Cavalcanti e Ellen de Lima. Em 1999, recebeu a Medalha de Mérito Pedro Ernesto,
a mais alta comenda concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Em 2001,
participou do CD "Café Brasil", produzido por Rildo Hora, ao lado de
Marisa Monte, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Henrique Cazes, Leila
Pinheiro e o conjunto Época de Ouro, entre outros. Admirada no Brasil e no
exterior, uma prova disso pode ser dada pela admiração da cantora japonesa
Yoshimi Nakayama que tendo obtido (no Japão) um CD de Ademilde, decorou as
letras, sem saber o significado das palavras, veio ao Brasil e passou a
cantá-las em seus shows; posteriormente, Yoshimi veio ao Brasil para conhecer
Ademilde que a recebeu em sua casa e lhe ensinou, além do significado das
palavras das músicas do seu repertório, diversos segredos da sua interpretação.
Yoshimi fez uma gravação no Rio de Janeiro, cantando junto com Ademilde e
acompanhada pelo violonista (7 cordas) Walter Silva (Waltinho) e fez algumas
apresentações, junta com Ademilde, no Restaurante Panorama no Leblon. A partir
de 2004, passou a se apresentar sempre em companhia da sua filha única Eymar
Fonseca. Entre as apresentações mais marcantes das duas juntas, destacam-se os
festivais do choro "Na Cadência do Choro", no Circo Voador, em 2005,
e a "A Noite do Chorinho", em Conservatória, em 2007, e o show
"De Mãe para Filha", realizado na sala Baden Powell, em maio de 2008.
Ainda em 2005, foi a grande homenageada do festival "Na cadência do
choro" realizado no Circo Voador envento no qual se apresentou em duas
noites, na primeira acompanhada pelo flautista Altamiro Carrilho, e na segunda,
pelo grupo Noites Cariocas. Foi homenageada pela Escola de Samba Imperatriz
Alecrinense, em Natal, RN, que desfilou, no Carnaval de 2007, tendo como tema a
sua história -- ``Saudação da Imperatriz a uma Rainha (Ademilde Fonseca )".
Ainda em 2008, recebeu convite da cantora Carmélia Alves para voltar a integrar
o grupo "Cantoras do Rádio", o que aceitou.
Cantora de importância
fundamental na música popular brasileira, e particularmente para o
desenvolvimento do choro. Até o seu surgimento, o choro não era para ser
cantado e era considerado como um gênero exclusivo dos instrumentistas.