Entrevista de Simona Talma para o site O Inimigo:
"Há tempos O Inimigo queria marcar um papo com Simona Talma. Durante as várias reuniões de pautas realizadas pela equipe sob a égide de infinitos litros de cerveja entornados em incontáveis mesas de bar, sempre que chegava a hora de listar o nome de algumas figuras que gostaríamos (ou deveríamos ou precisávamos) entrevistar, a “moça mais vagal que há” era sempre mencionada. Fosse por preguiça nossa ou por esses desencontros que acontecem por aí, demoramos meses para conseguir realizar essa intenção. E quando finalmente deu certo, acabou rolando mais um papo despretensioso sobre as trocentas coisas que Simona Talma fez, fará ou pensa em fazer: shows, processo de composição, artes visuais, vontades e frustrações e projetos que virão – alguns extra-musicais. Uma hora e várias cervejas depois, ficou bem claro que de vagal Simona não tem nada.
[Hugo Morais] – Simona, pra começar fala um pouco sobre o seu disco A Moça Mais Vagal Que Há. Ele saiu quando, foi por alguma lei de incentivo…
[Simona Talma] – Esse disco é de 2005, mas só foi lançado em 2008. Não saiu por lei de incentivo não. Foi pelo Cosern Musical. Era um festival competitivo, da Casa da Ribeira. Se fazia um espetáculo e o melhor ganhava a gravação do disco. Nesse ano, 2005, quem ganhou fui eu e Edu Gomez.
[Alexis Peixoto] – Esse show que você apresentou recentemente na Casa da Ribeira ainda é desse disco?
Não. Esse agora é o Boa Sorte de Malfeitores. Eu estou com esse trabalho (o disco) há um tempão. Aí nós começamos a compor coisas novas e experimentar no show. O show não tem nada de especial. É ótimo a pessoa dizer que não é nada de especial, né? É uma continuação, é mais um show. Fiz vários, cada um eu dou um nome diferente. E a proposta é a mesma: testar músicas novas. A gente já testou umas vinte, até agora ficaram quatro que eu acho que vou gravar. Eu fiz o mesmo processo do outro disco que é compor, testar nos shows e depois escolher o repertório para gravar. É mais ou menos esse processo e está sendo pior porque é o segundo disco. O primeiro você tem a vida toda para fazer e o segundo não, precisa fazer logo.
[Alexis Peixoto] – Interessante isso que você falou de compor e testar no show. É uma coisa que a gente sempre comenta, que as bandas têm essa facilidade da tecnologia, então os caras fazem 4 ou 5 músicas e já gravam e divulgam. Aí sai um EP que fica bem gravado, bonitinho, mas no show não rende tanto. Como você vê a importância de testar as músicas no palco antes de gravar? Para você é um processo contínuo: compor, gravar, testar no show?
Primeiro eu tenho que gostar quando estou compondo. Aí depois a gente faz uma gravação caseira. E cada etapa dessa para mim conta. Se eu ouvir em casa e gostar, eu levo pro show. Se no show funcionar eu continuo fazendo. Senão, jogo fora.
[Alexis Peixoto] – E como você sente que funciona no show?
Se eu me emocionar. Se eu me sentir bem fazendo aquilo, se me despertar alguma coisa e se eu perceber que as pessoas estão sentindo. O principal é que eu goste, mas se as pessoas não gostarem eu não consigo fazer mais.
[Hugo Morais] – Você faz shows com voz e violão, mas também faz outros bem elaborados na Casa da Ribeira com cenário, banda, projeção. Investir nesses shows maiores não acaba sendo um tiro no pé, já que não existem tantos lugares em Natal com estrutura para esse tipo de espetáculo? Isso não fecha algumas portas?
Eu acho as duas coisas boas, são diferentes, não tem como comparar [os formatos]. Eu não acho que seja pior ou melhor, são coisas diferentes. Uma vez eu conversei sobre isso com uma artista que eu admirava muito, agora estou repetindo a resposta dela. Hoje eu realmente acho isso, mas na época que eu conversei com ela não achava. É uma artista que quando faz shows grandes são bem pensados. Ela tem a concepção, um artista que ela pensou para se basear, mas ou menos como eu faço. Tem muita coisa de cinema, de artes visuais, que é Adriana Calcanhoto. Quem me vê fazendo voz e piano é uma coisa, por isso não adianta ver só um show. Não vai ver quem é o artista. Eu acho que o principal do meu trabalho é o teatro. É o que eu mais gosto de fazer e com o que eu mais sofro. Me estresso muito, fico doente, sem dormir. Eu estudei um pouco de teatro, então eu trabalho como se fosse um teatro. Começo por um tema, um assunto. Por exemplo, o Boa Sorte de Malfeitores que é baseado no canalha, no cafajeste. Comecei a pesquisar sobre isso, ler sobre cafajeste, reunir histórias minhas e fui desenvolvendo. Cada passo é parte do tema. A menor parte do que eu faço é música.
[Alexis Peixoto] – Mas você não sente uma frustração de ter toda essa elaboração para o show e não ter onde apresentar?
Sinto, é tanto que eu paro de fazer (risos). Embora seja o que eu mais goste de fazer, mas paro. Desde o primeiro espetáculo que eu fiz, com esse formato, já vai fazer, sei lá, oito anos. E sempre faço show na Casa da Ribeira porque é mais acessível. Não é muito grande, então não vai ficar vazio. Tem uma estrutura boa, iluminação, equipe acostumada a trabalhar com isso, então é bem o perfil de espaço que eu gosto de trabalhar. Mas eu cansei, não aguento mais fazer lá. Não aguento mais ficar captando para pagar e fazer aquilo. Então resolvi não fazer mais. Não vou mais fazer em teatro aqui, se surgir fora eu faço.
[Hugo Morais] – Pra você que é sozinha essa coisa de captar os recursos é mais complicada. Se fosse uma banda era mais fácil, divida a pauta entre os integrantes…
Eu sempre tive vontade de ter uma banda, mas quem diabos vai querer fazer isso? Eu faço porque não tenho opção. Se eu não fizesse eu ficava louca.
[Hugo Morais] – Os shows seus que eu vi são carregados de rock, blues e jazz. É isso mesmo, são esses os pontos de partido que definem teu show?
Na verdade ninguém sabe até onde vai um estilo e começa o outro. Por isso que meu trabalho é complicado de se inserir num festival de blues. Porque em um festival de blues sempre vai ter alguém para dizer que não é blues. A mesma coisa com rock e jazz. Porque as pessoas que fazem os festivais são puristas. É difícil ter um festival de fusão.
[Alexis Peixoto] – Mas teve uma edição do Festival DoSol que você tocou no mesmo palco das bandas de rock, quando ainda os shows ainda eram no largo da Rua Chile. Como é que foi essa experiência?
Foi bom. Eu gostei. Às vezes o público não gostava não. Acho que eles não ficaram totalmente satisfeitos. Faz parte, não me importo. Prefiro isso do que a indiferença.
[Alexis Peixoto] – Antes você falou que espera uma resposta emocional do público. Mas você faz uma idéia de quem pode ser esse público? Quem são as pessoas que ouvem e entendem esse teu trabalho de pesquisa, essas referências de jazz, blues, etc. e te dão a resposta que você procura?
Tem adolescente de 15, 16 anos, tem professor universitário, pesquisadores. De todo tipo. Eu presto mais atenção nas pessoas que não são da área de música. O principal é que as pessoas se interessem pelo que eu digo. Acho que [as que entendem] são as que continuam seguindo. As que se impressionam com qualquer coisa param. Porque o importante no meu trabalho é o que eu digo, a base é a palavra. A atitude, quando eu falo é tudo. A cena, o que está dizendo na letra, a maneira como me expresso quando vou cantar. O conjunto das coisas.
[Hugo Morais] – O Boa Sorte de Malfeitores, não sei se pela temática, é bem carregado de sensualidade e sexualidade. Foi só nesse trabalho ou os outros também têm essa característica?
Desde o momento que eu me assumi como artista solo, há dez anos, eu comecei a desenvolver isso. É tema do meu trabalho. A sexualidade, a mulher, a sensualidade.
[Alexis Peixoto] – Apesar do blues ser uma coisa machista…
Totalmente. É por isso que eu sou feminista (risos). E eu não sei como eu consigo conviver com meus amigos, tipo os meninos do Mad Dogs. Eu convivo muito com eles, mas acho que eles esquecem que eu sou mulher. Mas é porque eu sou da mesma laia, mas sou mulher.
[Hugo Morais] – Já que você falou dos meninos do Mad Dogs, fale das suas parcerias…
[Alexis Peixoto] – “Meninos” é um elogio, né? (risos)
[Hugo Morais] – É, eles não são mais meninos (risos). Mas tem os mais jovens, como o pessoal do Projeto Trinca, Luiz Gadelha…
Gadelha foi quem me fez cantar. Eu sempre quis cantar, queria estudar música, canto, piano, mas meus pais não queriam. Achavam um absurdo, não queriam nem que eu ouvisse música. E eu insistia, ouvia música escondida. Comecei a fazer coisas escondidas por causa da música, mas não tive coragem de assumir que ia ter isso como profissão. E aí com 16 anos, conheci Gadelha e ele começou a me instigar. Ele me escutou cantando numa rodinha de violão e começou a pedir para eu cantar. No primeiro disco dele me chamou para participar, porque eu ajudei no repertório, indiquei uma música. Gravei com ele, fizemos shows juntos, mas aí ele foi morar no Rio de Janeiro fui obrigada a fazer sozinha. Mas nesse meio tempo fiz vestibular pra música, aula de piano, de canto. Já os meninos do Projeto Trinca foi porque Bruno e Palhano fizeram uma música para eu cantar. Eles fizeram uma gravação bem tosca que hoje é a música de trabalho do próximo disco, se chama “Cafajeste”. Fizeram de forma aleatória, nunca nem tinham visto esses shows mais elaborados que eu faço. Aí começamos a trocar figurinhas, um mandar música pro outro. Eles começaram esse projeto porque eu obriguei eles a fazerem o Projeto Trinca.
[Hugo Morais] – E como está essa parceria com Palhano e Bruno? Vocês continuam compondo juntos?
É, porque a gente é amigo. Tem essa coisa de um ir ao show do outro e mostrar as coisas. Eu não conseguiria viver sem isso, se eu pudesse seria uma banda. Como eu não encontrei ninguém que me suportasse, então eu sou sozinha. Mas por outro lado eu consigo trocar muito com os músicos que trabalham comigo e com os compositores. E aí tem muita gente. Tem Cris [Botarelli] que tem o projeto infantil com a gente. Tem Henrique [Geladeira], Tiago também era da banda infantil. Tem as meninas que eram do Retrovisor: Valéria [Oliveira], Khrystal, Angela [Castro]. Essa galera é um grupo de criação. Estão sempre conversando sobre compor, sobre música, sobre o processo todo, de carreira e tudo mais. E em grupos separados.
[Alexis Peixoto] – Você consegue ver tudo isso, esse grupo como uma cena?
Acho que sim. A gente faz coisas junto, né?
[Hugo Morais] – Mas esse grupo tem força para crescer e aparecer? Porque a gente conversa muito se Natal tem ou não uma cena, já que as bandas surgem e desaparecem muito rapidamente…
Acho que sim. O objetivo do Retrovisor é mais se juntar na casa de alguém, conversar, compor e esporadicamente fazer show. Para celebrar a amizade, é totalmente despretensioso. No início, a intenção era fazer shows individualmente, mas as coisas foram rolando naturalmente e o povo gostou de fazer todo mundo junto. E foram surgindo propostas de shows, fomos para São Paulo, Ribeirão preto, lançou disco lá. Só que o objetivo da gente nunca foi esse de ter uma banda. Até porque são pessoas muito diferentes. Mas aconteceu e a gente criou um novo trabalho que é diferente. E agora a gente vai continuar, criar coisas mais políticas. Porque não tem o compromisso de estar no tema de cada um. Khrystal trabalha com o regional, tem toda uma linguagem. Eu já escolhi o blues, Luiz tem outra viagem com música eletrônica. E no Retrovisor não temos essa obrigação, então escolhemos outros temas. Eu adoraria ser só “protesto”, mas não consigo.
[Hugo Morais] – E você, como artista solo, tem articulado alguma coisa fora daqui, alguma turnê?
Tenho. Estou correndo atrás de editais de circulação, se algum dia passar eu fico feliz. Mas fora isso eu não tenho produtor, converso com um e com outro. E não tem muito o que fazer não. Nem todo mundo nasceu para ser produtor. Dimmy até deu uma entrevista e fala sobre isso: que todo artista deveria ter mais domínio sobre sua carreira. Eu tenho domínio sobre todas as partes, mas já faço bastante coisa e tento não me noiar muito com isso. Vejo bastante gente escrevendo sobre esse assunto. Li o texto de Ana Morena que fala que tem muita banda que reclama, que não se mexe. Eu não faço isso, mas também não vou dizer que sou uma boa produtora e que consigo ser articulada. Eles conseguem, mas quem não consegue, tem que ter alguém que faça por você. Vi na tevê uma entrevista com uma artista plástica, que fiquei tão impactada com o que ela disse que nem consegui ver o nome dela. Só sei que ela não é brasileira. E ela falava que ainda bem que ela tinha uma forma de sobreviver que não através do trabalho dela – e isso é uma coisa muito comum entre os artistas visuais. E era um questionamento que eu já tinha há muito tempo: como é que esse bichos fazem esses trabalhos super esquisitos, de performance, de instalação, coisas que são para provocar as pessoas, mas não são vendáveis. Ninguém vai comprar aquilo. E a artista dizia justamente isso: não necessariamente meu trabalho é vendável ou compreensível. Nesse momento eu estou questionando o meu trabalho. Não sei eu tenho que tocar fora, se tenho que receber cachê grande, ganhar bem com meu trabalho. Sei que eu nasci pra fazer isso e estou fazendo. Mas será que eu nasci pra fazer uma turnê pelo Brasil todo? Não sei. Eu estou no melhor momento, tranquila em relação a isso. É muito interessante o artista receber pelo que ele faz, mas não necessariamente a sociedade tenha que estar preparada para isso. Tem muitos desses caras que fazem esses trabalhos esquisitos… Inclusive aqui tem vários como Falves [Silva], que é precursor de um estilo de poesia muito bem visto no país inteiro. Tem Sayonara Pinheiro, tem Guaraci [Gabriel, artista plástico]. Muita gente que faz trabalhos desse tipo no mundo todo e às vezes não tem dinheiro pra pagar a passagem pra ver a exposição lá fora. E o bicho trabalha lá na Central do Cidadão e depois vai tomar uma cana no final da tarde. Mas o cara é um gênio, alguém vai contestar isso? Contribuiu muito para a cultura nacional. Muita gente conhece ele no mundo, mas ele não tem dinheiro.
[Hugo Morais] – A gente tem visto esse ressurgimento das cantoras brasileiras. Tipo Céu, Vanessa da Mata, Maria Rita, Roberta Sá e outras que vão pelo lado do samba, MPB e bossa nova. Algumas com uma pitada de música eletrônica. E você está inserida em outro nicho. Como você vê o trabalho delas em relação ao seu?
Eu não gosto muito desse tipo de cantora não. Acho chato. Porque elas são cantoras, cantoras mesmo. Elas vão cantar bonitinho, são bonitas, têm presença de palco. Não é muito o que eu gosto de ouvir. Eu gosto de ouvir mulheres, escuto muitas mulheres, mas quando percebo que tem uma coisa a mais. Mas essas meninas aí não me interessei não, quase nada. A única que achei mais interessantezinha foi Ana Canãs. Que está nessa galera também. E ela tem também uma ligação com rock, jazz, começou cantando cover de clássicos do jazz num lugar foda lá em São Paulo. E ela canta muito bem jazz. E ela é atriz. Eu me interesso mais por essa coisa, não por cantoras que são bonitas e cantam bem.
[Alexis Peixoto] – E o que você ouve atualmente ou desde sempre? O que é que você ouvia escondido dos seus pais?
O que tocava no rádio. Quando eles iam jantar, estavam bem distraídos, eu ia no quarto no escuro e ouvia o rádio. Tocava muito Chico Buarque. Eu gostava muito de Bethânia. Chico, Caetano, Gal, aquela coisa toda. Eu escutava rock, blues e jazz através do meu pai, quando ele botava os vinis. De jazz era principalmente instrumental. Não gostava de cantoras, só depois. Mas eu escuto um monte de coisas diferentes, procuro não me contaminar por coisas que não me interessam, mas às vezes acabo escutando. Agora eu estava ouvindo Nervoso, Mombojó, CocoRosie…
[Hugo Morais] – E o novo do Mombojó [Amigo do Tempo]? Gostou?
Gostei.
[Alexis Peixoto] – Talvez você seja a única pessoa nessa mesa que gostou desse disco…
Ah é? Eu gostei. Por que vocês não gostaram?
[Hugo Morais] – Achei muito lento, arrastado, chato.
Ah, é por isso, eu adoro essas coisas. Adoro coisa lenta, chata, arrastada (risos). Acho que ele [Felipe S., vocalista e compositor do Mombojó] mudou totalmente o jeito de escrever. Eu gostei disso, apesar de também gostar de como era antes. É porque depende do que cada um gosta em música. Tem pessoa que gosta dos arranjos, aí vai prestar atenção no que as guitarras estão fazendo, na dinâmica que leva aquilo ali. Eu já não gosto, são outras coisas que me pegam. Tem gente que gosta de música que mexe com o seu corpo. Quase percussivo.
[Hugo Morais] – Talvez seja porque eu fiquei muito ligado ao primeiro disco do Mombojó. Tem bandas que passam por essa mudança e a gente gosta.
[Alexis Peixoto] – O segundo deles [Homem-Espuma, de 2006] já é bem diferente e também é um bom disco, que foi pouco comentado na época. Mas esse terceiro não me desceu muito não.
Mas eu escuto um monte de coisa esquisita. Música instrumental, às vezes um pianista. Eu fico viajando com aquilo. A música tem várias funções na minha vida. Eu tenho música para correr, para trabalhar, para ficar chorando, para estudar. Às vezes eu aproveito que vou correr para estudar. Fica meio confuso, mas eu faço isso porque preciso. Não tenho tempo de parar só para estudar. Então eu escuto muita música de raiz, tipo Robert Johnson, Bessie Smith. Eu preciso ouvir isso, é estudo. Mas escuto Amy Winehouse, Etta James. Muito instrumentista que às vezes eu boto pra tocar e nem sei quem é. Gosto muito do albino Johnny Winter. Eu estou escutando muito o disco novo de Otto [Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos]. Eu gosto muito da maneira que ele escreve que é completamente louca.
[Hugo Morais] – Fala um pouco do seu projeto de música infantil.
O projeto infantil é massa. É antigo. Quando eu comecei a fazer show com Luiz a gente colocou duas músicas do Balão Mágico. A gente já tinha uma ligação muito forte com música infantil. Essa banda tinha Paolo [Bugs] no baixo, Tiago [Grogs] na guitarra e Dani [da extinta Dharma] na bateria. A galera gostou e então a gente resolveu fazer um show só com músicas infantis dos anos 80. Depois a gente começou a compor, um monte a gente jogou fora, outras a gente fez. Tem 10 anos que a gente começou a trabalhar com música infantil. Virou banda há uns 3 anos. Mas foi mudando. Às vezes pára, às vezes a gente faz um aniversário. A gente está há um ano ativo, tocando todo mês. Aniversário de criança é o que rola mais. Agora quando é festa em lugar que tem brinquedo criança nenhuma presta atenção. O show é para os pais.
[Alexis Peixoto] – Como é o nome da banda?
Trem Fantasma. Hoje em dia a gente faz tudo. Scooby Doo, Ben 10. E aí a gente vai atualizando a partir dos aniversários. Sempre o aniversariante pede uma música de um programa que ele assiste, faz coreografia. Aí a gente vai e aprende. Teve um aniversário que foi ótimo que era a música da Barbie, aí eu e Cris cantamos a música da Barbie. É principalmente pra gente se divertir. E a gente ensaia na casa de Cris. Aí vamos pra lá, passamos o dia, ensaiamos, almoçamos, rimos um da cara do outro, falamos sobre música. Então é muito pra se divertir. E a gente quer gravar alguma coisa. Até agora temos uma música autoral, com esse grupo atual. E ela foi feita ainda com Tiago. Mas é também porque a gente não tem tempo, sempre temos que aprender uma música nova para os aniversários. A gente faz o show com aquele Projeto Picadeiro. Então até novembro a gente faz um show por mês. E vamos fazer na SBPC uns dois shows.
[Hugo Morais] – Você também tem um programa de vídeo no YouTube, o Microondas com Paula Vanina e Luiz Gadelha…
Tem muito a ver com o que a gente faz e pensa. O Microondas faz parte desses anseios que eu, Luiz e Paula temos de saber o processo criativo das outras pessoas, dos outros artistas. Como as pessoas trabalham, o que elas querem da vida… A mesma coisa que vocês estão fazendo. Eu prefiro perguntar do que responder. Então a gente resolveu fazer o programa, botar no Youtube, e a gente chama quem está a fim. A gente entrevistou Juão [AK 47] porque sempre pensamos nele por causa do trabalho como ator, performer, tem a banda, tem o trabalho solo. Ele é complexo. Tem o negócio da modificação corporal e um monte de coisas que eu queria saber. O interessante é que como somos da mesma área, podemos fazer perguntas mais específicas. E depois será Henrique, porque pela convivência na banda das crianças, eu comecei a me interessar. Ele me disse que o começo das músicas no Calistoga eram com os riffs e eu fiquei chocada, porque entendi tudo. Aí ele começou a explicar e eu fiquei fã do Calistoga, antes eu não era. (risos)
[Hugo Morais] – Você não pensa em unir essas influências musicais, de teatro e de vídeo e fazer curtas, ou algo do tipo?
Já tive muita vontade, queria fazer um documentário. Um dia desses eu pirei que queria ir pra Cuba fazer um documentário com uma menina que trabalha comigo, Rita Machado. Ela é jornalista, videomaker, o caralho de asa todo. E aí desde que eu comecei a fazer os shows no teatro ela está registrando tudo. A gente tem muitas imagens e nunca soube o que fazer com isso. Quando eu ganhei o prêmio pra fazer o disco, eu fiz uma temporada com quatro shows. Uma coisa bem maluca pra música fazer quatro shows na Casa da Ribeira. Registramos os quatro shows e fizemos um DVD com making of, entrevistas, tudo. E até hoje a gente não fez nada com isso. Porque a gente não sabe o que fazer, não tem dinheiro para editar. Eu tenho essa ligação com ela. Já fizemos um clipe que ela editou. Ela editou esse material e fez outro clipe que até ganhamos o Curta Natal como melhor videoclipe. Uma vez eu disse: “Ritinha, vamos embora pra Cuba. A gente faz um documentário sobre música e fica por lá. Fuma muito charuto cubano”. Aí ela perguntou como a gente fazia, e eu disse que a gente pedia um dinheiro na Fundação [José Augusto] e ia embora (risos). A gente ficou de se inscrever em um edital, eu arranjei um namorado e deixei pra lá. Já tinha articulado um monte de coisa, falado com um amigo que faz Medicina lá, com um monte de gente. E olhe que é difícil falar com o povo de lá. Falei até com um menino que estava em Paris porque o irmão dele está em Cuba e podia me ajudar… Aí desisti. O namoro foi mais importante.
[Hugo Morais] – E o seu próximo disco, sai quando?
Não tenho a menor idéia. Eu recebi proposta de uns três estúdios para gravar de graça. Chega uma hora que isso acontece. Alguém liga e diz: “Ei, quer gravar uma música no meu estúdio?” E até agora eu não gravei nenhuma. Eu acho que vou gravar umas três músicas e lançar um EP, sei lá. Lancei duas músicas do Boa Sorte de Malfeitores. Ia lançar três, mas a outra não prestou. Tá no Coletivo Records para baixar.
[Hugo Morais] – Faltou perguntar alguma coisa?
Não (risos). Mas realmente eu não queria fazer música, queria fazer cinema. Eu acho que o cinema é o mais completo."
FONTE: http://www.oinimigo.com/blog/?p=4427