quarta-feira, 18 de maio de 2011

SUELDO SOARES


No limiar da década de oitenta, a noite natalense adquiria o seu realce-mor na figura do músico Sueldo , que se iniciava nos bares então frenéticos no feliz terreiro de Poty. Presença altiva, rutilante, magnética; um brilho tal, que foi se tornando cada vez mais intenso, deixando patente o caráter daquilo que é definitivo. E a cidade, claro, reconhece nesse artista uma das suas expressões mais atuantes e reverenciadas dos últimos tempos.

Uma vez com o pé na estrada, Sueldo não parou mais. Sua experiência hoje se demonstra através de itens incontáveis. Idem no tocante à reciclagem de sua formação. Primeiro os bares, depois os festivais, aqui e alhures, onde ganhou diversos prêmios, consagrando-se como compositor e intérprete. Em 1984, subiu ao palco do teatro Alberto Maranhão, no espetáculo “Tinta Viva”. Protagonizou vários outros nos anos seguintes, a saber:

“Reino”, em 1985, “Novo Mundo”, em 1986 e “Tulipa Negra”, em 1987, todos neste teatro. Este último show ficou em cartaz por cerca de dois anos, tendo sido levado a diversas capitais brasileiras, como Aracaju (teatro Atheneu Sergipano), João Pessoa (teatro Santa Rosa), Teresina (teatro 4 de Setembro) e São Luís (teatro Espaço Cultural). Sueldo Soaress já participara, em 1986, da “janela” do Projeto Pixinguinha, show que trazia Joyce, Clara Sandroni e Lazo Matumba, como atrações de fora. No ano seguinte, estava participando do “Pixingão”, com a Orquestra de Música Popular Brasileira, na sala Sidney Miller (Rio de Janeiro). Daí por diante, teve participação especial em shows de alguns mega-stars da MPB, como Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Jorge Ben Jor, Angela Rôrô, Geraldo Azevedo, Toninho Horta , Kleiton e Kleidir e Xangai, além de fazer parte do Pixinguinha Nacional, junto com o grupo João Penca e seus Miquinhos Amestrados, pelo Norte e Nordeste.

Em 1993, decidiu expandir mais sua música, explorar outros caminhos. Buscando o reconhecimento do seu trabalho, resolveu dar um giro pela França, Espanha, Alemanha e Marrocos. Levou na bagagem o violão e um repertório com suas belíssimas canções. Recebeu então um convite para tocar nos Estados Unidos, onde participou da celebração do “Dia da Independência” na Union Square e no Coconut Grove Super Club, ambos em São Francisco, Califórnia. Encantou as cidades de Santa Cruz, Los Angeles e San Jose, em diferentes shows e estilo único. Em novembro de 1996, foi especialmente convidado para participar da tour do Jorge Ben Jor, também em São Francisco, e em fevereiro de 1997 tocou no Carnaval Ball, no Galleria, a convite do Bay Brasilian Club. Foi um dos grandes destaques no segundo MADA ( música alimento da alma ) que realizou-se em Natal no Rio Grande do Norte.

Sueldo não se destaca dos demais músicos por fazer músicas de influência negra acentuada, mas sim por lançar como proposta estética a exuberância e o brio de uma musicalidade repleta de impressões de tempo e de espaço, que lhe são peculiares. É raro encontrar alguém capaz de casar tão bem, quanto Sueldo , o swing com a suavidade. Preenche de carisma e sensualidade, esse dânde-mambembe esbanja seus dons, senhor absoluto da sua boa estirpe, a quem outro destino não compete senão o sucesso.

A esse imodesto talento musical, soma-se ainda a proeza de um poeta zeloso e inspirado, cuja performance artística atinge genial equilíbrio entre voz, ritmo, texto e melodia. Poesia que confirma o calibre desse esteta inveterado, que faz apologia à beleza, especialmente da raça, ao mesmo tempo que reclama por mais consciência social, pois, como ele diz sabiamente: “Não é sempre o molejo gostoso de toda mulata, que enche a barriga da tribo”.

Antônio Ronaldo,

jornalista, escritor e poeta.

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